9 de outubro de 2009

E-mail de um pai para o jornal Diário da Manhã!

Crise na UEG
Aborto educacional


Minha filha vai graduar esse semestre em Química pela UEG, fato que me faz enormemente orgulhoso, porque sei o esforço e os sacrifícios que fez para chegar até aqui.
Há algumas semanas, me disse que havia sido escolhida para representar sua turma na colação de grau. Estava tão orgulhosa de si mesma que tive a nítida impressão de que, se ela fechasse os olhos e tirasse os pés do chão, ela poderia voar. E me senti o pai mais orgulhoso do mundo e que os sacrifícios aqui nos EUA valeram a pena. Vim para os EUA há 14 anos buscando um futuro melhor para meus três filhos. Estava desempregado no Brasil e o futuro que via para eles era sombrio e vazio de esperanças. Devido ao fato de não ter muita escolaridade (comecei a trabalhar muito cedo para ajudar em casa), somente consegui subempregos aqui, mas mesmo assim ainda era melhor do que desempregado no Brasil. Em 14 anos, nunca voltei ao Brasil porque entrei aqui ilegalmente e se sair não posso mais voltar, e ainda tenho dois filhos que necessitam se formar. E assim que os três estiverem formados e trabalhando não precisarão mais de mim, aí então retornarei ao país que nem sequer por um minuto, saiu do meu coração.
Ontem, falando com minha filha (a formanda), ela me disse que, devido a problemas na UEG (solucionáveis, se eles tivessem interesse), pode ser que aconteça que o diploma que receberem não terá nenhuma validade. Por anos a fio, tenho acompanhado minha filha (via computador, espero por ela todas as noites; quando retorna da faculdade, por volta da meia-noite, se senta comigo por horas a me contar os acontecimentos do dia), seus medos, suas preocupações, chorava com ela ao ver seu desespero diante de uma matéria mais difícil, a empurrava dizendo-lhe que se esforçasse mais, que estudasse mais, porque no final seus esforços seriam recompensados. Minha filha, infelizmente, não possui uma inteligência inata e por essa razão se desdobra em esforço para possuir uma inteligência nata. E o tem feito com tanta maestria, que chegou onde chegou, com excelentes notas. E agora, depois de tantos anos de sacrifícios, descobre que tudo o que fez, as horas de sono perdidas, as festas não comparecidas, o vestido não comprado, o sapato velho e surrado, o namorado que poderia desviar sua atenção, as amizades que roubariam seu tempo, o anseio em época de provas, as lágrimas derramadas ante o receio de uma reprovação, a tensão a ansiedade, a esperança e o sonho de que seu diploma seria a espada com a qual travaria e venceria as batalhas da vida, tudo está preso por um fio. Ela não sabe o que fazer. Eu estou tão longe, a mãe é cardíaca e tem um medo terrível de retaliações (porque, infelizmente, no Brasil, a corrupção é um câncer que, quando atacado, se esparrama e essas ramificações são poderosas). Por essa razão, escrevi a vocês. Estou pedindo desesperadamente: usem o poder da imprensa para ajudar minha filha. Mande um repórter, só uma vez, por favor! Converse com esses estudantes. Mostre o que está acontecendo! Não permitam que o Estado cometa esse aborto educacional!
Julio César Corrêa Borges, via e-mail

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